A liturgia é uma realidade que brota da Fonte e cuja história presente na eternidade é um acontecimento: o próprio Mistério Pascal de Jesus Cristo. Nesta perspectiva, fica fácil entender aquilo que o então cardeal Joseph Ratzinger escrevia no seu “Espírito da Liturgia” de que o culto público da Igreja é a entrada de Deus no nosso mundo, deixando-se encontrar e realizando a verdadeira libertação. Assim sendo, quando mais os sacerdotes e os demais fiéis se entreguem a esse Deus que se entrega, tanto mais a liturgia será mais nova, mais verdadeira e mais pessoal.
Assim como o Mistério, que é o próprio Jesus Cristo, cavou um buraco no muro da história penetrando-a totalmente e salvando o ser humano (fluxo do rio de vida), da mesma maneira o Mistério celebrado (Liturgia) cavou um buraco na eternidade (refluxo do rio de vida) conduzindo os nossos louvores às eternas moradas. É também através da liturgia que a beleza entra nesse nosso mundo atual dando-lhe sentido. É famosa a frase de Dostoievsky, no seu romance “O Idiota”: “a beleza salvará o mundo”. São João Paulo II, depois de citar essa frase do escritor russo afirma que “a beleza é chave do mistério e apelo ao transcendente”. A beleza do Mistério entra na nossa história trazendo a glória de Deus e salvando-nos. Dessa maneira, se entende que tudo o que é belo apresenta-se como vestígio ou até mesmo semelhança de Deus.
Ao perceber a beleza de Deus nesse mundo através da liturgia, as nossas celebrações deveriam ser belas, refletindo dessa maneira a beleza que se irradia dos Tabernáculos eternos, na Jerusalém celeste na qual moraremos um dia. O Concílio Vaticano II expressou também e de maneira sintética a beleza da liturgia quando disse que as nossas celebrações devem resplandecer de “nobre simplicidade” (Const. Sacrossanctum Concilium, 34): uma nobreza que é simples e uma simplicidade que é nobre. Sem dúvida, uma expressão que deixa vislumbrar algo da beleza de Deus: infinitamente nobre, infinitamente simples. Ao celebrar, todos os domingos, a Morte e a Ressurreição do Senhor, o cristão deve, pessoalmente, deixar-se penetrar por essa beleza de Deus! Celebramos aquilo que professamos e vivemos aquilo que celebramos. Seja também a nossa vida uma constante celebração da glória de Deus, infinitamente nobre, infinitamente, simples!
Pe. Dr. Françoá Costa