
Pe. João Paulo Cardoso
Seminário Maior Diocesano
Jesus coloca, no evangelho de hoje, os dois maiores mandamentos um ao lado do outro, justamente pela intima conexão eles têm. Quem ama a Deus, ama as suas criaturas. E a principal criação de Deus é o homem, feito à sua imagem e semelhança. Eis aí a fundamental razão pela qual as pessoas devem ser amadas: porque são criaturas de Deus, mas ainda, porque são seus filhos e filhas. Devem ser amadas pelo que elas são, não pelo que fazem. É assim que Deus nos ama também: pelo que somos, não por nossas atitudes. O pecado não diminui o amor que Deus tem por nós, apenas mostra o quão longe dele estamos dispostos a ficar, por nossa livre decisão, a ponto de irmos até para nossa própria condenação se não voltamos a tempo do mau caminho.
Amar uma pessoa é, na sua forma mais genuína, desejar o Céu para ela, a sua salvação eterna. E todos, sem exceção, merecem ser amados. Talvez já estejamos fazendo algumas ressalvas na mente: todos, menos… esse (a). Pois é, Jesus na Cruz quis e morreu pela salvação de todos os seres humanos, inclusive daqueles que o estavam matando. Pensemos nisto: enquanto Jesus na Cruz (não depois de Ressuscitado, quando a dor já não havia passado), ele pediu perdão por aqueles que o matavam, ao invés de condená-los por tão grande pecado: “Pais, perdoa-lhes: por que não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
Eis a grande pergunta que nos impede de odiar qualquer pessoa que os tenha feito mal ou a alguém que amamos: se quem matou DEUS não sabia o que estava fazendo, quem nos ofende vai saber? É claro que não! Ao menos não completamente. Sequem já nos maltratou algum dia soubesse o quanto estava ofendendo o próprio Deus (quem nos ama infinitamente), não teria sido capaz de levantar o pensamento contra nós. Da mesma fora, se tivéssemos real noção de imensidão do amor que ele tem por cada filho seu, não ousaríamos cometer a menor das ofensas a qualquer irmão nosso.
Nesse sentido, nossa vida deve ser um continuo clamor à Misericórdia Divina para que perdoe a nós e aos outros as ofensas que ambos cometemos. Isso não significa fechar os olhos às injustiças e não punir os crimes que acontecem, mas jamais deixar de acreditar que o pior dos criminosos continua sendo filho amado e que Deus nunca vai deixar de querer sua salvação. Tenhamos muito cuidado ao sairmos “julgando e condenando” nossos irmãos por aí. É grande risco declarar que alguém não tem mais jeito! Afinal, no fim da vida, na casa do nosso Pai do Céu, não entra o filho que não desejou ver os seus irmãos lá com ele.