A necessidade de amar e ser amado expressa a vocação mais profunda do ser humano, a missão mais sublime e a responsabilidade mais desafiadora. O amor se torna uma completa aventura de superlativos e comparativos, de conquistas e renúncias, sorrisos e lágrimas, permissões e proibições. A realidade do amor exige a maturidade de abraçar até as últimas consequências os quereres do bem-amado. Um amor permissivo se torna pernicioso, um amor libertino afronta a liberdade, um amor sem normas e limites é desinteresse, frouxidão, mentira, banalidade, porque quem ama se preocupa, cuida, exige, mostra, acompanha, chora nas quedas e celebra nas conquistas…, mas jamais amar significa ser indiferente. O amor inquieta, questiona, impulsiona, levanta do comodismo, se humilha nos erros, perdoa nas desavenças e confia no melhor do outro.
A simples constatação da realidade do amor nos ajuda a compreender o desafio proposto por Jesus no Evangelho: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. A banalidade do amor é reflexo de uma sociedade frágil, light e “mimizenta”, prefere resumir a grandeza de amar à pequenez do apaixonar, troca o desafio da entrega pela superficialidade do sentimento, optam pela futilidade das emoções à realidade da doação. O amor exige a estabilidade dos propósitos, a constância da entrega, a totalidade da vida e a maturidade nas atitudes. Amar requer totalidade, entrega, superação, coragem e decisão, requer maturidade para arcar com as consequências do amor. Dizer “eu te amo” vai além de palavras poéticas, é um compromisso consciente de responsabilidades, é atualizar na própria vida os quereres do amado, é viver para o outro sem se importar consigo. O verdadeiro amor insiste em uma realidade sólida, anseia uma estabilidade, sonha com a verdade que não se esvai no calor da emoção, ou na frieza da rotina, ou nos desafios dos defeitos. Se é próprio do ser humano amar e ser amado, é próprio do amor exigir e restringir, limitar e ser limitado; amor que não condiciona é libertino, utópico e hipocrisia.
“Ama e fazes o que quiseres!” A célebre frase de Santo Agostinho é muito usada como justificativa para um amor liberal, uma maneira de anestesiar a consciência, um induto que permite fazer o que quiser sem ter as consequências e as responsabilidades dos atos. Realmente, o amor nos dá a liberdade para fazer o que quiser, com tal de não ofender a pessoas amada, o amor não impõem um modo de viver, mas propõe uma vida regada pelos interesses da pessoa amada. Um amor que tudo permite é daninho, enganoso, banal e mentiroso; o verdadeiro amor nos insere na realidade do outro, nos dá a inteligência para agradar o amado, esperteza para evitar os desagravos, grandeza de coração para perdoar e humildade para ser perdoado. A realidade do amor nos faz amar o que o amado ama e querer o que ele quer, traz a capacidade de ser um, a graça da unidade e a coerência das consequências. A simples experiência do amor humano nos leva a buscar uma maturidade para refletirmos se realmente amamos a Deus, inserindo nossa vida na dinâmica do querer do amado, porque só ama de verdade aquele que abraça a liberdade limitada pela entrega total de uma vida ofertada.
Pe. Carlito Bernardes Oliveira Júnior Diocese de Anápolis Imagem: Shutterstock