No Evangelho de hoje, vemos Jesus fazer, mais uma vez, o anúncio da sua Paixão. A profecia da primeira leitura, que fala sobre o justo que é perseguido pelos ímpios, encontrou seu perfeito cumprimento em Nosso Senhor. É interessante notar, entretanto, que, além de não compreenderem o que Jesus dizia, “os discípulos (…) tinham medo de o interrogar” (v.32). Por quê?
Eles não compreendiam porque esperavam um Messias que trouxesse guerra nas mãos e conquistasse os inimigos do Povo de Israel, não um Mestre que ensinasse a amá-los. Mas tinham medo de o interrogar porque queriam permanecer como estavam, não queriam mudança, não estavam abertos às surpresas de Deus, como diz o Papa Francisco. Conosco, muitas vezes, não acontece diferente. Nossas orações devocionais, nosso ir à Santa Missa conseguem, talvez, manter a nossa crença, mas somente um diálogo sincero na nossa consciência com a Palavra de Deus que sempre nos confronta é que expõe as nossas fraquezas e exige de nós conversão de vida e mudança de mentalidade. É exatamente isso que Nosso Senhor sempre espera de nós sem cessar.
Num segundo momento do evangelho, vemos que essa falta de confronto com o nosso comodismo pode ceder espaço a muitas tentações. Os discípulos começam a discutir pelo caminho quem é o maior entre eles e Jesus se aproveita disso para dar uma das mais importantes de suas lições, uma que deveria se tornar a marca registrada de quem o seguisse: o serviço humilde! “Quem quiser ser o primeiro seja o último” (v. 35). “Nisto reconhecerão que sois meus discípulos” (Jo 13,35).
Pobres de nossos bispos, padres, diáconos, ministros, coordenadores de grupos, dirigentes de pastorais, etc. se pensarem que foram chamados por Deus para estarem à frente dos outros porque são melhores que eles. Que engano perigoso! Toda autoridade da Igreja só existe com a finalidade de serviço, a exemplo d’Aquele que, mesmo sendo Todo-Poderoso, veio “para servir e não para ser servido” (Mt 20,28). Até aquele que está no mais alto grau da nossa hierarquia cristã não se exclui da imitação do Cristo Servo. Além de Vigário de Cristo, Sucessor de Pedro, Sumo Pontífice, Sua Santidade, Bispo de Roma e vários outros títulos honoríficos, o Papa é também chamado de Servus servorum Dei, ou seja, Servo dos servos de Deus! Ao contrário, talvez, do que acontece lá fora, dentro da Igreja, quanto “mais alto” se chega, mais a serviço se deve estar!
Pe. João Paulo Cardoso Paróquia São Pedro e São Paulo - Anápolis