Somos criados para a felicidade, nosso anseio principal, nosso ideal natural, nossa inclinação mais íntima, nos tende a buscar no mais profundo do nosso coração e na finalidade última de nossas ações a felicidade. Uma tendência quase inconsciente, mas tão real e verdadeira, frustrada pela debilidade humana, pela inconstância nos
propósitos, pela ilusão do prazer e pelo orgulho prepotente de conquistar uma liberdade confundida com libertinagem. A realidade do pecado frustra nosso mais intenso desejo de felicidade sonhado por Deus desde nossa criação. O pecado é como a lepra, nos isola do convívio social, apodrece nossos sonhos e transfigura nossa condição de filhos de Deus.
Esbanjamos as graças dadas por Deus, nos deleitamos na miséria dos prazeres humanos e nos afogamos na arrogância da ignorância, experimentamos o pecado; e do pecado nasce a frustração pessoal, o sentimento de miséria, a sensação de lixo, a tristeza de uma ruptura… E de maneira natural e profunda sentimos a necessidade de reconciliação, queremos nos livrar da enfermidade espiritual, temos necessidade de nos lavar da lepra do pecado. O sacramento da reconciliação, a confissão, vem em resposta a este grito desesperado por misericórdia, este clamor por perdão, um bramido por restituir a felicidade perdida, se acolhido novamente ao seio da comunidade, fazer parte dos filhos de Deus.
Mas o reconhecimento do pecado passa pelo “cadinho” da humilhação, pedir perdão exige humildade, rebaixar-se, dizer o mal que cometemos, se colocar diante do juízo de outro; a cura da lepra do pecado exige a humilhação de se apresentar ao sacerdote na confissão. A felicidade da reconciliação passa pela forja da humilhação, um aniquilamento pessoal que nos purifica das imundícies do pecado, um rebaixamento do “ego” para um reconhecimento da grandeza de Deus. E na confissão acontece um verdadeiro milagre onde somos restituídos à dignidade perdida, um milagre oculto aos olhos da carne, mas visíveis aos olhos da fé.
Na confissão vemos a fortaleza da santidade, pois o santo “é um pecador que nunca se cansa de pedir perdão”, e contemplamos também a grandeza do amor de Deus que tampouco cansa de perdoar. Na confissão acontece um verdadeiro encontro entre a miséria e a misericórdia, o pecador e o justo juiz, entre o leproso e Jesus, se dá a restituição da graça e a felicidade de sermos filhos bem amados.
A confissão não é um simples contar os pecados para o padre”, é um diálogo com Deus na pessoa do padre. O sacerdote não está para condenar, brigar, se espantar ou expulsar, mas está para aconselhar, ajudar, acolher, instruir e ser instrumento da misericórdia de Deus. À confissão é um momento de encontro pessoal, íntimo e reconciliador com Deus Pai, é o momento onde temos a certeza do perdão divino intermediado pelo sacerdote, é o momento onde nos humilhamos aos pés de Jesus e dizemos ‘“se queres, tens o poder me curar” e o milagre acontece, o Senhor nos perdoa, somos libertos da lepra do pecado.
O preço do milagre da reconciliação é a humilhação da confissão; precisamos descer do nosso orgulho, vencer nossa “vergonha do padre”, sacrificar nosso egoísmo e, com fé, humildade e sinceridade, buscar o perdão divino por meio de uma boa confissão e assim poder dizer com o salmista: “Sois, Senhor, para mim, alegria e refúgio”.
Pe. Carlito Bernardes Oliveira Júnior Paróquia Nossa Senhora Rosa Mística