É próprio da fé crer sem ver e acreditar sem saborear, e a mesma experiência de fé nos impulsiona a viver a aventura de um completo abandono de si mesmo, se entregando completamente aos projetos divinos. A fé nos cega para os nossos interesses e nos lança à vontade divina a ponto de dizermos como São Paulo “já não sou eu quem vivo, é Cristo que vive em mim!” (Gal 2,20). A fé exige confiança: Crer que os projetos de Deus são melhores que os nossos: Acreditar que a providência divina tudo contempla: Renunciar aos nossos traumas do passado para contemplar a mão de Deus em cada momento da nossa história pessoal.
O imperativo da fé professada nos convida a confiar plenamente no Senhor. Entretanto a experiência de frustração se torna um verdadeiro empecilho para vivermos plenamente essa confiança. Falar para confiar, rezar renunciando, abandonar os problemas e preocupações nas mãos de Deus. Parece fácil quando se tornam palavras bonitas dentro de uma oração, mas a experiência pessoal e histórica na vida de cada pessoa joga um papel decisivo para que a confiança na graça de Deus seja alcançada e não seja uma mera utopia.
Pela própria experiência pessoal, tantas vezes rezamos, pedimos nas orações, imploramos nas nossas adorações, fizemos até o Cerco de Jericó, confessamos e comungamos em prol de uma graça, da cura de uma enfermidade, um milagre buscado e não fomos atendidos. O sentimento de frustração com Deus marca o nosso relacionamento, inibe a nossa oração. Essa experiência de revolta, porque Ele não atendeu as nossas preces, faz com que criemos uma certa desconfiança com o divino, confiamos duvidando, entregamos com suspeitas, abandonamos nossos pedidos, mas com receios.
Para confiar no Senhor é necessário olhar nossa vida desde os olhos de Deus, curar nossos corações frustrados e cheios de ressentimentos, dar um sentido aos nossos sofrimentos, ver que toda a nossa vida compreende um projeto divino que vai além dos nossos projetos e tudo que nos aconteceu, tanto as coisas boas como as más, nos trouxeram até aqui, e somos quem somos hoje graças as graças como também as “desgraças” que aconteceram na nossa vida. Deus sempre está no comando de todas as situações e de toda a nossa história. Não tem nada errado! Até as nossas perdas forjaram em nós um espírito de fortaleza, crescemos, amadurecemos, o Senhor nos amparou em diversos momentos, consolou, fortaleceu.
Contemplar a nossa vida desde os olhos divinos nos faz confiar mais no Senhor, pois, assim como nunca nos faltou nada (talvez não sobrasse, mas também não faltou), nunca nos faltará nada. A fé nos faz ver Deus em tudo, até na mais dramática e drástica história pessoal; enxergar a Deus em tudo nos faz confiar mais nos seus projetos que sempre são melhores que os nossos. No Evangelho, Jesus insiste em ter fé n’Ele, consola dizendo para não perturbar nossos corações e logo mostra sua unidade com o Pai, dessa essencial unidade brota a total confiança do discípulo, porque sabe que Aquele que segue não é qualquer um, mas é o mesmo Deus de amor, o Senhor da sua própria história pessoal, Aquele que está no comando de tudo e que nada foge do seu projeto, Aquele que é o caminho, a verdade e a vida.
Padre Carilto Bernardes Vigário da Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus.