Coragem
O dramatismo sentimental de uma sociedade susceptível se encontra e se mistura dentro de um contexto vital de futilidades e banalidades, cheio de facilidades e com o mínimo de esforços, gerando um estilo de cristianismo repugnante, sensível, meloso, frágil, fragmentado, desnorteado e fraco. Um cristianismo diferente daquele primeiro cristianismo cujos homens não pensaram duas vezes ao deixar as redes e a família para seguir aquele imperativo categórico que lhes convidavam para uma aventura incerta, misteriosa e cheia de obstáculos. Um cristianismo plasmado no sangue de Cristo que se misturava com o sangue dos primeiros mártires que confessavam com a vida a fé em Jesus Cristo. Um cristianismo cuja doutrina era vivida de maneira radical, a verdade era proclamada de forma incisiva e sem “respeitos humanos”, o desejo do céu e da vida eterna era mais importante que os desejos da concupiscência e os bens deste mundo, e o maior bem era a fé vivida e proclamada por palavras, atitudes, exemplo e até com o sangue. Ser cristão era ter coragem para enfrentar as contrariedades das perseguições, perseverar no caminho da fé e conquistar até as últimas consequências a vida eterna. Essa mesma coragem queremos admirar e contemplar em São Pedro e São Paulo cujos exemplos são um verdadeiro “tapa na cara” de tantos cristãos fajutos, hipócritas, cheios de “mi mi mi”, que mal conseguem fazer um jejum, acham pesado o fardo da oração e da adoração, vivem reclamando das missas e buscam as facilidades da vida deturpando a realidade do evangelho.
As verdades de um cristianismo exigente e de uma doutrina radical choca com a fragilidade e o comodismo de um cristianismo atual e a pergunta evangélica coloca em cheque a vida de cada batizado: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?” (Evangelho). Uma resposta que podemos colar de São Pedro e São Paulo, responderam com a vida e nos ensina que a essa pergunta não se responde com palavras, mas com atitudes. Um exame de consciência pessoal pode detectar nosso grau de comprometimento com a nossa fé. Quanta coragem temos nós de levar até as últimas consequências a nossa fé proclamada? Que espírito de heroísmos nos faz sair de nós mesmos para defender a nossa fé com a vida? Como estamos dispostos, até que ponto chegaremos para responder a essa crucial, inquietante e essencial pergunta? O heroísmo que brota da fé nos faz enfrentar qualquer tipo de perseguição para viver a fé, e mesmo diante de obstáculos e de perigos tão letais onde nossa vida e a vida dos demais correm risco, nos preocupamos com a vida eterna, com nosso bem espiritual, com o céu… Queremos no final da vida poder dizer como São Paulo: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (2ª leitura).
O mais fácil seria ficar em casa, como Pedro na prisão (1ª leitura), cair na ociosidade de uma vida tranquila e sem lutas, longe dos perigos, do contato contagioso e das responsabilidades e consequências. Mas aqueles que amam a Deus, aqueles que tiveram um encontro profundo e íntimo com Jesus Cristo, aqueles que possuem uma fé enraizada, são impulsionados pelo Espírito para darem testemunho, para responder quem é Jesus com coragem, heroísmo e alegria, sem medo e sem receios, pois “de todos os temores me livrou o Senhor Deus” (salmo).
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