Chamados e enviados
Amados irmãos e irmãs, Filhos de Deus Pai!
O Ano 2023 foi proclamado como Terceiro Ano Nacional Vocacional, com o lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24, 32-33). Pareceu-me justo unir o Ano Vocacional à Solenidade do Corpo e Sangue de Jesus Cristo, Autor e Senhor de todas as vocações. Toda a vocação procede de Deus e seu núcleo é amar e servir.
No antigo catecismo da Primeira Comunhão, uma das primeiras perguntas era: para que Deus criou o homem? E a resposta: para o conhecer, amar e servir. À primeira vista parece que Deus é “incompleto”, precisa de favores humanos. Não! Deus é completo na sua glória e nas suas perfeições. Antes, criou o homem para ser sua glória. Um versículo da Bíblia salienta que a glória de Deus é o homem vivente”. A própria existência humana, como criatura mais perfeita, é em si, no seu ser, o cântico de glória de Deus. Vejam como Deus é bom e generoso para criar o homem à imagem e semelhança sua.
Dar glória a Deus, portanto, é viver com dignidade, em todas as suas dimensões. Que missão nobre! Que missão sublime!
Desta maneira, o homem se torna o porta-voz de toda a criatura, que também reflete a bondade e a beleza divinas. São Boaventura considera a criação como uma escala pela qual o homem, contemplando, se eleva até o encontro com Deus. A criatura é como espelho limpo que reflete nitidamente o semblante de Deus. Tudo, quanto voltado para Deus, canta os seus louvores.
Ouçamos, o convite às criaturas para que deem o louvor a Deus na diversidade de sua beleza e do seu ser (Dn, 3,57-88.56):
Obras do Senhor, bendizei o Senhor,
Louvai-o e exaltai-o pelos séculos sem fim!
Céus do Senhor bendizei o Senhor!
Anjos do Senhor, bendizei o Senhor!
Águas do alto céu, bendizei o Senhor!
Potências do Senhor, bendizei o Senhor!
Lua e Sol bendizei o Senhor!
Astros e estrelas, bendizei o Senhor!
Chuvas e orvalhos, bendizei o Senhor!
Brisas e ventos, bendizei o Senhor!
Fogo e calor, bendizei o Senhor!
Frio e ardor bendizei o Senhor!
Orvalhos e garoas, bendizei o Senhor!
Geada e frio, bendizei o Senhor!
Gelos e neves, bendizei o Senhor!
Noites e dias bendizei o Senhor!
Neste ritmo, o profeta Daniel continua a sua lista dos seres que convida ao louvor divino.
A ele faz coro São Francisco de Assis, chamado de “irmão de toda criatura”:
Louvado sejas, meu Senhor, Com todas as Tuas criaturas,
Especialmente o Senhor irmão Sol, Que clareia o dia
E com sua luz nos alumia.
E ele é belo e radiante Com grande esplendor.
De Ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor, Pela irmã Lua e as Estrelas,
Que no céu formaste claras E preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor, Pelo irmão Vento,
Pelo ar, ou nublado Ou sereno, e todo o tempo,
Pelo qual às Tuas criaturas dás sustento.
Louvado sejas, meu Senhor Pela irmã Água,
Que é mui útil e humilde E preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor, Pelo irmão fogo.
Pelo qual iluminas a noite.
E ele é belo e jucundo E vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor, Por nossa irmã a mãe Terra,
Que nos sustenta e governa, E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a Morte corporal,
Da qual homem algum pode escapar.
Neste sentido, o ser humano é constituído como porta-voz e guardião de todas as criaturas.
Mas, qual é a minha, a tua, a dele e dela, individualmente, a vocação que Deus reservou para nós? Somos todos, cada um chamados à santidade, conforme as palavras de Jesus: “sejais perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito”. Ele acima de todo, valor supremo para o qual o nosso olhar deve estar voltado.
A santidade é a busca da imitação de Jesus, do seu estilo de vida, dos seus valores, atitudes, modos de tratar as pessoas, dar devido valor às coisas que nos rodeiam.
A santidade não é um ato solitário, um pulo de emoção, mas um constante processo na busca de aperfeiçoamento, um caminho que conhece tanto momentos de consolo como também noites escuras.
O Papa São João Paulo II costumava dizer que o santo não é aquele que nunca peca, mas aquele que mesmo pecando levanta-se e com novo entusiasmo e compromisso recomeça a estrada.
Diversos são os caminhos da santidade; tantos quantos estados de vida, profissões etc.
Entre eles, destaca-se a família, a vida consagrada e sacerdotal.
Família é a comunidade de pessoas que na sua composição reflete a própria Santíssima Trindade. É uma só vida (carne), vocação a transmissão da vida, comunhão nas alegrias e comunhão no perdão, comunhão no sacramento do matrimônio, comunhão na oração.
A vida consagrada e sacerdotal é a mais sublime comunhão com Deus e com os irmãos. Esta comunhão se expressa em termos de família: “alter Christus”, esposo e esposa.
Neste Ano Vocacional contemplamos a fundo estes mistérios e suplicamos numerosas, santas, perseverantes vocações para a glória de Deus, bem das almas, difusão cada vez maior da Mãe Igreja.
Concluamos cantando: “enviai, Senhor”…
Dom João Wilk, OFMConv.