22/06/2010
Irmãos e Irmãs em Cristo Sumo e Eterno Sacerdote.
Concluímos o Ano Sacerdotal. A carta convocatória do Papa Bento XVI foi inspiradora para uma vivência frutuosa deste tempo abençoado. O Papa trouxe ao nosso conhecimento e à nossa reflexão a figura do Santo Cura D’Ars, o sacerdote João Maria Vianney, numa nova e reveladora luz. Mostrou aspectos da sua vida de sacerdote já conhecidos ou pouco conhecidos numa abordagem nova. Entusiasmou-nos com a sua frase: “O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus” (São João Maria Vianney). Esta frase acompanhou as reflexões e as celebrações do Ano Sacerdotal no mundo inteiro como um refrão. De fato, foi uma expressão de afeto, mas também de forte contribuição teológica, juntando-se a todas outras definições da natureza e da missão do sacerdócio. Permitiu ver o conjunto das atribuições sacerdotais como novo horizonte e suscitou entusiasmo.
A Igreja teve oportunidade de olhar com muito carinho esses seus filhos e ministros. Assim como em outras ocasiões olhou para os seus jovens e para as famílias. Os bispos dos respectivos países expressaram seu reconhecimento e agradecimento. A vigília dos 15 mil sacerdotes ao redor do Santo Padre, em Roma, deu ao Papa oportunidade de rever extensa reflexão sobre o sacerdócio. Foi uma voz de Pastor e de Pai que trouxe a tona, a partir da Palavra de Deus na festa do Coração de Jesus, tantas belezas do mistério e apelos para o ministério dos sacerdotes: “Cada cristão e cada sacerdote deveriam, a partir de Cristo, tornar-se fonte que comunica vida aos outros. Devemos dar água da vida a um mundo sedento” (Bento XVI). Nós, na Diocese de Anápolis, fizemos isso em várias ocasiões: ordenações diaconais e sacerdotais, celebração do Corpus Christi, Congresso Teológico, encerramento do Ano Sacerdotal na véspera da festa do Sagrado Coração de Jesus. Fizemos a leitura dinâmica do profundo e abrangente subsídio da CNBB “Presbítero, anunciador da Palavra de Deus, Educador da Fé e da Moral da Igreja”.
Entre os valores refletidos encontrou uma valorização especial a Eucaristia. Para ela e a partir dela o sacerdote vive e trabalha no meio da Igreja. Além do valor teológico do ato litúrgico, o Santo Padre destacou o valor catequético: “A melhor catequese sobre a Eucaristia é a própria Eucaristia bem celebrada”. O Papa falou da dimensão litúrgica, da qual o sacerdote é servo, e não dono, a favor da Igreja: “A Santa Missa, celebrada com respeito pelas normas litúrgicas e com um uso adequado da riqueza dos sinais e gestos, favorece e promove o crescimento da fé eucarística”.
A um sacerdote da Ásia, que perguntava sobre o perigo do clericalismo, O Papa respondia: “Viver de modo autêntico a Eucaristia é o melhor antídoto contra uma tentação que acomete a Igreja desde sempre: o clericalismo, o viver alienado da realidade do mundo numa ‘urna protegida’ no seio da Igreja”. Dizia ainda: “Sabemos que o clericalismo tem sido uma tentação para os sacerdotes ao longo dos séculos, e permanece hoje; por isso é tão importante encontrar a forma verdadeira de viver a Eucaristia, que não é fechar-se para o mundo, mas é precisamente uma abertura para as necessidades do mundo”, afirmou.
A questão, explicou, é “como viver a centralidade da Eucaristia sem se perder numa vida puramente cultual, alheia ao cotidiano das demais pessoas” (…). “A Eucaristia é, em si, um ato de amor, e nos obriga a esta realidade do amor pelos demais: que o sacrifício de Cristo é a comunhão de todos em seu Corpo. E, portanto, devemos aprender a Eucaristia, que é precisamente o contrário do clericalismo, do fechar-se em si mesmo”.
Os bispos do Brasil, no contexto do Ano Sacerdotal, destacam a necessidade de uma formação mais sólida, em vista da “sequela Christi” – seguimento de Cristo: “Como a vocação sacerdotal se realiza em uma pessoa humana concreta, para o bem da comunidade cristã e do próprio sacerdote, é preciso que ele tenha equilíbrio afetivo, sexual e psicológico e alcance uma maturidade humana e espiritual capaz de superar as instabilidades, revezes, crises e tentações inerentes ao seu estado de vida e ministério” (33). Falam que os sacerdotes devem evitar, “com humilde coerência”, o “dogmatismo” e os “moralismos”, “autoritarismo” e o “democratismo”, ”exercendo seu ministério em espírito de serviço, como ‘serviço de amor’ (amoris officium), e dedicação desinteressada pelo rebanho do Senhor”.
O Ano Sacerdotal deixou em nós uma sensação de alegria pelo dom do sacerdócio à Igreja do Senhor. Apesar das fraquezas de alguns, fica a alegria de seguir Cristo que continua agindo a favor dos seus amados pela ação dos seus escolhidos.
Deus seja louvado nos seus SERVOS FIÉIS A CRISTO, NA IGREJA!
+ João Wilk, OFMConv.
Bispo de Anápolis