Diocese de Anápolis

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Corpus Christi 2024 – Homilia de Dom João Wilk

Liturgia orante

Amados em Cristo irmãos e irmãs,

Querido Povo de Deus.

 

Na última Assembleia Diocesana tomamos a decisão de voltar maior atenção sobre a formação litúrgica. Escolhi, portanto, nesta Solenidade de Santíssimo Corpo e Sangue de Jesus Cristo, quando estamos unidos como representantes de todas as paróquias de Anápolis, refletir brevemente sobre o tema de “Liturgia orante”. Eu sei, é um tema vasto e pode ser abordado de diversos ângulo de vista. No entanto, é bom retomar o que é essencial para nós enquanto participantes das ações litúrgicas.

O Concílio Vaticano II, num seu documento intitulado Sacrosanctum Concilium nos diz o seguinte:

É mister que os fiéis se acerquem da Sagrada Liturgia com disposições de reta intenção, sintonizem a sua alma com as palavras e cooperem com a graça do alto, a fim de que não a recebam em vão. Por isso, é dever dos sagrados pastores vigiar que, na ação litúrgica, não só se observem as leis para a válida e lícita celebração, mas que os fiéis participem dela com conhecimento de causa, ativa e frutuosamente.

  1. Liturgia pertence à Igreja

Lembremos que, independente da nossa participação, a liturgia como sacramento é válida e frutuosa por força do seu caráter sacramental, por sua força da graça divina e da Igreja. Lembremos também que a liturgia não é “minha” (padre tal ou tal, participo de forma como a mim parece mais santa), mas é da Igreja e eu é que devo me adequar às normas e as determinações da Igreja, de tal forma como atualmente a Igreja me prescreve. Isto ajuda na celebração serena e reflete o caráter comunitário da celebração.

  1. Cuidado dos pastores

Os sagrados pastores (celebrantes) cuidem que a forma da celebração seja de acordo com as prescrições referentes à celebração em si, para evitar que se torne inválida. Toda a Assembleia Litúrgica é celebrante, participante, não apenas assistente. No entanto, o celebrante principal, presidente da assembleia litúrgica, é aquele que dá ritmo, cria um clima orante, introduz a assembleia dentro do mistério salvífico de Cristo. Cuidem, portanto os sacerdotes que Cristo esteja em primeiro lugar e todo o resto como que desaparece. O sacerdote, quanto mais discreto e simples é, tanto mais Cristo é perceptível. Vestes, decoração, assistentes devem sempre formar o segundo plano.

  1. Reta intenção

A reta intenção direciona todos os nossos atos para um determinado fim. O fim da celebração eucarística é celebrar o santo Sacrifício de Jesus na Cruz para a nossa salvação. Além disso, agradecer a Deus Pai pela criação do mundo e pela Ressurreição do seu Filho, formar a comunidade, estar em Comunhão com o Sagrado Corpo de Cristo e aceitar o envio em missão. Trago mais uma vez as palavras do Papa São João Paulo II: Quem sai da Missa e não parte em missão, não participou bem da celebração.

A celebração começa em casa, quando as pessoas se preparam, vestem adequadamente para “ir à igreja”, tomam o carro ou saem a pé de casa e se dirigem à igreja. Como é bonito ver as famílias ou pessoas individualmente, silenciosas, recolhidas, dirigirem-se à igreja. Elas sabem para onde e para que estão indo. Isto é, com certeza, um exímio ato de oração. Quando entram na igreja, o silêncio toma conta delas, conscientes que aqui é o lugar sagrado, ocupam seu lugar e meditam. A igreja não é lugar para outras coisas. Até as preocupações não podem nos distrair, porque já as trouxemos para oferecer ao Senhor.

  1. Participação consciente

Ser consciente é saber e conhecer o que se faz. Os ritos da Missa (a Igreja usa gestos, palavras, canto, sinais) para se comunicar com o Deus invisível. É preciso saber em que parte da Missa estamos, o que significam determinados gestos, compreender as palavras. Caso contrário, não somos participantes orantes, mas meros espectadores, na espera de quando a Missa termina. Prestar muita atenção à proclamação da Palavra de Deus. Se não ouvimos ou não entendemos é como jogar as preciosas sementes no pedregulho, segundo a parábola de Jesus. Isto, porém, não depende só dos participantes; depende da boa preparação dos leitores para proclamar a Palavra. Quando um diácono dirige-se para o ambão para proclamar o Evangelho, pede ao bispo ou ao padre uma bênção. Recebe-a com estas palavras: abençoe-te Deus… para proclamares dignamente o santo Evangelho. Este “dignamente” refere-se também aos leitores de outras leituras.

  1. Participar ativamente

Participar conscientemente é também participar ativamente. O que significa isto?

Na Missa antes do Concílio Vaticano II o povo assistia a Missa, por causa da língua latina que não conhecia. O agente principal e, digamos, único, era o celebrante. O povo fazia as suas orações. Por quase 100 anos, esta situação incomodava alguns pastores. Foi preparada a reforma litúrgica, na qual se trocou a palavra “assistir” por “participar”. Lembremos que a celebração é o ato de todo o Povo de Deus, não somente do padre.

Adotou-se a língua do país, o povo começou a cantar, os leigos assumiram algumas funções, o povo interagiu por meio das respostas etc. Reconhecemos, que às vezes, a participação ativa transformava-se em caos; não é de espírito da liturgia.

A celebração exige postura adequada e silêncio, nos momentos prescritos. Participamos ativamente quando estamos em comunhão com a graça de Deus, sentimos com a Igreja, em sintonia com o que a Igreja neste momento faz.

Participar ativamente é fazer o que e como os outros fazem. Não para criar a homogeneidade, que sufoca a espontaneidade. É para estar dentro das normas litúrgicas e expressar o maior senso da comunidade.

O canto litúrgico tem o seu papel importante. As normas da celebração dizem enfaticamente que quem canta é toda a assembleia, todos. Os músicos somente ajudam, sustentam o canto.

Tantos os anos se passaram e nós não aprendemos isso. Por vários motivos: não conhecemos a letra; só os músicos conhecem, pensamos que não é a nossa tarefa, é a tarefa dos músicos, às vezes por mera preguiça de aprender ou abrir a boca.

Caros irmãos e irmãs, precisamos o quanto antes mudar esta realidade!

  1. Participar frutuosamente

Os frutos da nossa participação litúrgica não dependem totalmente de nós: é dom da divina graça. São frutos de natureza espiritual, crescimento na espiritualidade, maior compreensão das coisas divinas, gosto de se aprofundar na riqueza da doutrina da Igreja, gosto pela oração, não só dominical, mas também diária, amor à Igreja, dor diante das perseguições da Igreja e seus ministros.

Não menos importantes são os frutos de natureza pessoal e material. Podemos citar a paz interior, paz pelo dever cumprido como filho(a) de Deus e da Igreja, leveza na consciência e no coração. De grande significado é o espírito missionário: desejo que todos conheçam Jesus e a sua salvação, desejo de praticar a caridade, ser bom, ter o espírito de família em casa e dom de educar os filhos, embora nem sempre isto é fácil.

Caríssimos irmãos e irmãs, o mundo precisa de nós. Enriquecidos e fortalecidos pela Santa Eucaristia, sejamos fermento na massa. A transformação do mundo depende de cada um de nós, a partir de nós. É nossa tarefa de cristãos. Sejamos obstinados em conservar a nossa fé e a nossa comunhão na Igreja e com a Igreja. Não deixemos as nossas convicções religiosas esmorecerem. Sejamos firmes na herança que recebemos da história da nossa Pátria.

Que Nossa Senhora e a Senhora Sant’Ana nos fortaleçam com a sua intercessão.

Louvado seja Jesus Cristo!

+ Dom João Wilk

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