A beleza de Deus chega até nós através da Sagrada Liturgia, especialmente da Santa Missa. As nossas celebrações deveriam, portanto, ser belas, refletindo dessa maneira a beleza que irradia nos Tabernáculos eternos, na Jerusalém celeste na qual moraremos um dia. O Concílio Vaticano II expressou também e de maneira sintética a beleza da liturgia quando disse que as nossas celebrações devem resplandecer de “nobre simplicidade”: uma nobreza que é simples e uma simplicidade que é nobre. Sem dúvida, uma expressão que deixa vislumbrar algo da beleza de Deus: infinitamente nobre, infinitamente simples.
Nesse sentido, é interessante observar a descrição que um filósofo italiano, Alessandro Baricco, faz com o objetivo de mostrar que é importante criar certos limites: “Imagine só: um piano. As teclas começam. As teclas acabam. Você sabe que existe oitenta e oito, sobre isso ninguém pode enganá-lo. Não são infinitas (…), mas com essas teclas é infinita a música que você pode criar. Elas são oitenta e oito. (…) Eu gosto disso. É fácil viver com isso. Mas se (…) diante de você estende-se um teclado com milhões de teclas, milhões e trilhões de teclas que nunca acabam e que nunca terminam e se esse teclado é infinito… Se esse teclado é infinito, então nesse teclado não há uma música que você possa tocar. Você se sentou no banquinho errado: esse é piano que Deus toca”.
Gutiérrez-Martín cita o texto de Baricco para fundamentar a necessidade de observar a forma litúrgica com os seus ritos sublinhando que deve ser assim por que, por um lado toda experiência humana é limitada frente ao insondável mistério do Deus uno e trino, e, por outro, neste mundo é necessário uma mediação “delimitada” e bem definida, as “oitenta e oito teclas” do piano, para participar de maneira finita da música infinita de Deus. A forma litúrgica é consequência não somente da experiência de Deus que o homem pode ter, mas do mistério mesmo da encarnação, através do qual Deus mesmo quis “circunscrever-se” através da humanidade do seu Filho. Os ritos da Santa Missa não são, portanto, ritualismos, mas expressões do amor que se manifesta em gestos.
Pe. Dr. Françoá Costa