Diocese de Anápolis

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Quinta-feira Santa 2014

Amados Irmãos e Irmãs em Cristo.

Tempus fugit! Tempus urgit! (Tempo passa! Tempo urge!)

1. Estamos celebrando mais uma vez os mistérios da nossa redenção, a Páscoa do Senhor. Admiramo-nos com a rapidez com que as datas se repetem. Costumamos dizer: já estamos na Páscoa. Isto nos diz várias coisas: que o tempo passa e o seu ritmo é como um rio: corre ao encontro do mar, dá curvas, mas não volta. Nós amadurecemos no nosso ser temporal e para a eternidade. Outra percepção do passar do tempo é o seu uso: quando é ocupado, passa rápido, quando é ocioso, também passa, mas gera frustração e senso de ser inútil.

O nosso tempo e todo o nosso agir está em função da salvação e da santificação própria e dos outros. Há pressa para viver bem, há pressa para ser útil, há pressa para evangelizar. Este é o objetivo da Igreja, de todos os batizados e, mais ainda, dos ministros sagrados escolhidos e separados para tal fim. Não há tempo para perder… Urge evangelizar.

2. Nesta “pressa” de viver e de evangelizar, temos os grandes exemplos da história da salvação: os santos de todos os tipos e condições, cada um a sua maneira. Deles podemos tomar o exemplo.

De modo especial, refiro-me aos dois papas que em breve serão inscritos no cânon dos santos da Igreja: João XXIII e João Paulo II, no tempo em que comemoramos os cinquenta anos do Concílio Vaticano II.

Muitíssimas lições podemos aprender tanto de um como do outro. Claro que não dá para esgotar o assunto, nem mencionar os aspectos mais importantes.

O Beato João XXIII destacou-se na história da Igreja como o Papa Bom, pela sua ternura com as pessoas, pelo seu modo de pastor no relacionamento direto e bondoso. É bom lembrar o seu famoso “discurso da lua”, uma paterna despedida  dos fieis no fim de uma vigília noturna, na Praça de São Pedro. Destacou-se como Papa da Paz, por sua visão das aspirações e dos perigos do mundo e pelas iniciativas concretas a favor da paz. Vale a pena lembrar o seu corajoso pronunciamento no rádio dirigido aos governantes do mundo diante da iminência da terceira guerra mundial, real e devastadora, desencadeada pelas potencias da chamada guerra fria: União Soviética e os EUA. Mas, de modo especial, inscreveu o seu nome pela iniciativa da convocação do Concílio Vaticano II. À diferença dos que pensam que foi uma decisão de momento, foi uma decisão pela qual esperava e se preparava a Igreja há tempo. Foi como a massa do pão, já fermentada, crescida, pronta para pôr no forno. O senso profético do Papa João XXIII consistiu na percepção do tempo oportuno para um novo sopro do Espírito Santo.

Pessoalmente, cresci e me formei no fervor e no entusiasmo das perspectivas e esperanças de profunda renovação da Igreja. Por aqueles anos agradeço a Deus. Amei a Igreja no entusiasmo dos bispos, dos teólogos, dos fiéis, inspirados pela ideia de “retorno às fontes” do cristianismo e de novas perspectivas de viver a mensagem da salvação. Surgiram dificuldades. Era normal, pois tudo que é novo é sujeito à desconfiança e a distorção. Mas, no meio dessas confrontações, nós, seminaristas, fomos orientados para o equilíbrio e a fidelidade à Igreja e o seu Magistério, sem filtros nem tendenciosidades. Essas dificuldades, de várias espécies, pesaram no processo de introdução das inspirações genuínas do Concílio e ainda hoje impedem uma leitura livre e produtiva daquilo que foi o Concílio. Resta uma tarefa para nós de reviver esse “primeiro amor”, as mais puras e retas intenções da Igreja.

Na mesma linha da compreensão da Igreja à luz do Concílio marcou a história o Beato João Paulo II. Foi reconhecido como papa que melhor compreendeu o espírito do Concílio. E de fato o foi. O Papa Bento XVI, no seu primeiro pronunciamento aos cardeais, após a sua escolha ao ministério petrino, apontava para o pontificado do Papa João Paulo II: “Com o Grande Jubileu (a Igreja) foi introduzida no novo milênio levando nas mãos o Evangelho, aplicado ao mundo atual através da autorizada, repetida leitura do Concílio Vaticano II. Justamente o Papa João Paulo II indicou o Concílio como “bússola” com a qual orientar-se no vasto oceano do terceiro milênio (cf. Carta apost. Novo millennio ineunte, 57-58). Também no seu Testamento espiritual ele anotava: “Estou convencido que ainda será concedido às novas gerações haurir das riquezas que este Concílio do século XX nos concedeu (17.III.2000)”. E concluía o pensamento: “Com o passar dos anos, os Documentos conciliares não perderam atualidade; ao contrário, os seus ensinamentos revelam-se particularmente pertinentes em relação às novas situações da Igreja e da atual sociedade globalizada”.

João Paulo II mereceu, embora de modo informal, o título de Magno. De fato, o foi e assim permanecerá na história. A Igreja deve muito pelo tempo e pelo modo com que dirigiu a barca de Pedro no oceano de águas agitadas, nos “tempos difíceis”.

A santidade de João Paulo II estava inscrita na sua alma desde a mais tenra idade. Era o pano de fundo de todos os seus atos. Estava presente na sua juventude, no modo como vivia o sacerdócio, o episcopado e, depois, o papado. O seu porta-voz, Joaquim Navarro-Vals, disse recentemente: “Wojtyla é santo, desde sempre, pela forma  como comunicava Deus. Desde os primeiros tempos, quando estava perto dele e trabalhei com ele e desde os primeiros momentos quando o via rezar, tinha certeza: este homem é santo; tem uma intimidade com Deus que é tão evidente que isso corresponde à característica da santidade segundo os critérios da Igreja”. De fato, a santidade estava na raiz de todo seu ser e agir. As obras não surgiram de um homem de gênio especial. Ele tornou-se gênio, porque era santo; porque era santo, pôs a serviço de Deus todos os grandes dotes com os quais a natureza e a graça o cumularam.

Neste dia especial de hoje, quero mencionar as inesquecíveis Cartas do Cenáculo, que costumava enviar aos sacerdotes por ocasião da Quinta-feira Santa. Os bispos as resumiam para os seus sacerdotes na homilia da Missa do Crisma ou as liam junto com os sacerdotes após a Missa do Crisma. Quanta sabedoria, quanto conhecimento da natureza do sacerdócio, quanto senso pastoral, quanta espiritualidade. Somadas aos outros documentos sobre o sacerdócio, constituem uma fonte da qual beberemos por muito tempo, na formação inicial e permanente.

3. Outra coisa que lhes quero falar neste momento é uma comunicação da mudança da sede da Cúria diocesana. Não quero que seja apenas uma notícia. A ideia de ter uma nova Cúria e um Centro Pastoral surgiu há uns oito anos. A reforma da residência episcopal e a sua ampliação em vista de ser um centro pastoral durou plenos cinco anos. Não foi obra fácil, pela sua complexidade, tamanho, desafios e dificuldades surgidas, pela modéstia de recursos. Mas, graças a Deus, não faltou compreensão e apoio por parte do presbitério e a sua generosidade e pontualidade com as obrigações com a Cúria. Estou muito agradecido a Deus e a Vocês. Ao Pe. Oscar que colaborou nesta obra. Confesso o nosso cansaço…

Esta obra foi pensada no contexto do Jubileu de Prata da fundação da Diocese, em 2016. Acho que o pleno funcionamento levará algum tempo e alcançará a celebração do Jubileu. Os motivos que justificam tal iniciativa foram: o crescimento populacional da Diocese, o número crescente de sacerdotes e paróquias, a conservação da memória histórica, a centralização das sedes das pastorais e dos serviços em nível diocesano, a escassez do espaço no prédio antigo junto à Catedral, a necessidade de ampliação da estrutura física da Paróquia Bom Jesus.

A Cúria serve como referência para a Diocese, tanto no sentido pastoral como administrativo. É sinal da unidade de todos os nossos esforços pastorais. É “casa de todos”. Esperamos que contribua para a construção da nossa unidade fraterna e pastoral. Não é um prédio para impressionar nem para ficar bonito. É uma conquista que servirá para o bem da nossa atividade pastoral, quem sabe, por mais cinquenta anos. Se Deus quiser!

4. Caros Irmãos sacerdotes, durante estes dias observei vocês engajados na prática dos “mutirões das confissões”. Observei entusiasmo e alegria, boa participação. É um detalhe que não fica isolado. Manifesta um espírito vivo e pronto para os trabalhos pastorais em geral. Em tantos outros momentos percebo isto. Fico edificado com o vosso testemunho de sacerdotes dedicados e zelosos. Percebo também, no vosso estilo de vida, uma simplicidade: no modo de ser, no uso dos meios, na casa paroquial, nos carros de uso pastoral. Aprecio isso, pois é um valioso testemunho para os fiéis. Conservem tudo isso. Recebam também a minha gratidão.

Continuem assim, e melhor ainda. Vocês são muito jovens, pelo menos a maioria de vocês. Mas para os jovens também tempo passa. Gastem-se para o Senhor, doem-se para o povo, na alegria e na generosidade. Todos somos conscientes de algumas dificuldades entre nós. Não deem importância nem espaço ao que não constrói. Não se deixem influenciar por qualquer vento em contrário. Sejam vigilantes e rezem uns pelos outros, na paz e na unidade.

5. Deus nos concedeu a graça de numerosas vocações. É fruto da fé do nosso povo. Fruto das orações. Do bom exemplo dado pelos sacerdotes e pessoas consagradas. Do interesse de vários sacerdotes pelas vocações e de cuidadoso acompanhamento. Devemos cuidar por este dom com muita cautela e prudência. Sobre o nosso Seminário pesa uma tarefa sublime e exigente. Neste ano foi aberto o Seminário Menor. Deus queira que seja uma experiência acertada e frutuosa.  Rezemos pelos formadores; que sejam sábios na obra a que foram chamados. Sintamo-nos todos formadores: pela oração, pelo incentivo, pela valorização, pela reta orientação.

Queridos religiosos e religiosas. Quero manifestar a vocês o meu reconhecimento e gratidão. Vocês não somente estão na Diocese com seus carismas e obras. Vocês fazem parte da Diocese. Vivem os seus carismas na totalidade e na unidade da Igreja Particular. Contribuem para o bem espiritual dos fiéis que são porção do Povo de Deus que peregrina nesta terra. Os vossos esforços não se opõem e nem contrastam com o conjunto pastoral. Se fosse diferente, não seria bom. Todo e qualquer plano de pastoral deve partir da Diocese como um todo, como a viga-mestra do edifício eclesial: harmônico, consistente, duradouro. Quem tem espírito de comunhão, tudo que faz concorre para a construção da unidade, tudo o interessa, tudo assume como tarefa própria.

6. Estamos no período abençoado do Triênio de preparação para o Jubileu da Diocese. “Deus Pai e a Família” é o tema que inspira esta preparação. Já começamos a peregrinação da imagem da Padroeira Senhora Sant’Ana. Quero apenas renovar o incentivo: vivamos com interesse e empenho tudo que foi programado. Sei que as tarefas pastorais costumeiras ocupam muita atenção e tempo e muitas vezes são absorvidas pela rotina. No entanto, vale a pena quebrar alguma rotina para introduzir uma nova proposta pastoral, oferecer ao povo novos conteúdos e formas de vivenciar a fé e de evangelizar.

Neste contexto renovo o apelo e motivo os padres, diáconos e fiéis das nossas paróquias para promover e organizar a já iminente romaria diocesana ao Santuário do Divino Pai Eterno, em Trindade – GO, no próximo dia 10 de maio. Seja uma verdadeira manifestação da fé, ato de adoração ao Divino Pai, momento de reflexão, gratidão e tomada de uma consciência maior da nossa condição de filhos e filhas de Deus Pai Eterno.

7. Que Nossa Senhora, Mãe do Sumo e Eterno Sacerdote, nos inspire a doação e o amor a tudo que é do seu Filho Jesus.

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!

Anápolis, Quinta-feira Santa, 17 de abril de 2014,

+ Dom João Wilk

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