Diocese de Anápolis

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Entrevista – Equipes de Nossa Senhora – 2014

para Jornal  ENS – Santidade, 22/10/2014

1. Quando e como foi o seu primeiro contato com o movimento das ENS?

Pela primeira vez tive contato com as ENS em Brasília, nos anos oitenta, quando Dom Damasceno, que era bispo auxiliar de Brasília, hoje cardeal de Aparecida, me apresentou o programa e me convidou a dar assistência a uma das equipes. Porém, por causa dos compromissos na Província Franciscana, com as aulas no Seminário Maior de Brasília, eu achei que não teria possibilidade de dar continuidade sistemática a esta nova tarefa.

2. Atualmente, como bispo diocesano de Anápolis, como tem acompanhado as ENS em sua diocese?

Quando cheguei a Anápolis, tive o primeiro contato com todas as forças vivas pastorais da nossa diocese. Também tomei conhecimento das ENS e fiquei muito contente, sabendo que aqui em Anápolis havia também um núcleo forte do movimento. No entanto, o bispo tem suas prioridades e às vezes estas prioridades são delineadas pelos setores mais urgentes. Por isto, a minha presença junto às equipes é uma presença de confiança. Eu tenho uma sincera confiança na condução das equipes pelos seus dirigentes e pelos diretores espirituais. É um movimento já consolidado, seja em nível mundial, seja nacional. Na diocese eu percebo integrado por casais sérios, comprometidos com a sua fé. Mas fico atento também na qualidade da caminhada. A gente deixa certa autonomia para os movimentos, mas sempre atento para que sempre estejam dentro da nossa caminhada pastoral.

3. Como a Igreja vê e qual a importância dos movimentos organizados como as Equipes de Nossa Senhora?

O Papa João Paulo II, no início do novo milênio, falou das pequenas comunidades, que hoje, na situação em que se encontra a sociedade com mudanças culturais rápidas e profundas, é preciso que os cristãos se engajem nos movimentos, nos grupos de espiritualidade, formando pequenas comunidades. O Papa disse que a Santa Missa dominical, que é um momento de comunhão por excelência de todos os fiéis, é insuficiente para sustentar a fé face a tantos perigos que eles enfrentam. A mesma coisa disse a Conferência dos Bispos Latino-americanos em Aparecida, insistindo nas pequenas comunidades de base, nos movimentos, nas pastorais. Nestas pequenas comunidades as pessoas se conhecem pelo nome, conhecem a sua história, falam com sinceridade de seus problemas, de suas alegrias e se enriquecem mutuamente na fé.

Outra coisa muito importante para se dizer é que a espiritualidade das ENS é muito segura, consistente. O trabalho que está sendo realizado com os casais, a sistemática, a metodologia, a revisão de vida – demonstram que é um movimento para pessoas já amadurecidas, humanamente e na fé. Por isto é importante salientar a importância do movimento na diocese, pelo testemunho que estes casais, estas famílias estão dando para os outros e, sobretudo, o investimento que eles fazem na solidez da sua família e da vivência do amor perseverante, da espiritualidade matrimonial.

4. Uma das prioridades deste ano para as ENS é a participação e apoio à Pastoral Familiar. Como os casais equipistas podem participar e contribuir com esta Pastoral?

É um assunto crucial e estou contente sabendo desta opção, que estão adquirindo consciência de se integrar para serem parte da Pastoral Familiar. Mas o que é a Pastoral Familiar? Não é mais uma pastoral na diocese, nas paróquias? É um elo de ligação entre os diversos grupos, movimentos e pastorais que trabalham com a família, direta ou indiretamente: Encontro de Casais com Cristo, Encontro Conjugal, Cursilho, Equipes de Nossa Senhora, Renovação Carismática Católica e outros. Então, o que precisa fazer para reforçar a Pastoral Familiar? Primeiro, ter a consciência daquilo que se faz: cultivo da espiritualidade. O bonito das Equipes é isto: primeiro as famílias se evangelizam para depois serem famílias evangelizadoras. Tudo tem êxito e sucesso quando é bem feito; então cada movimento deve viver bem o seu carisma, seguindo as normas, obedecendo a metodologia que foi adotada, comprovada e está produzindo frutos. Resumindo, eu recomendaria um espírito de comunhão e participação: comunhão entre si, com o grupo, com o bispo, com a diocese e a participação nos trabalhos da pastoral familiar, como por exemplo, a Semana Nacional da Família.

5. Muitos pais não conseguem estimular seus filhos para participarem da Igreja. Na sua visão, o que está acontecendo e como mudar o quadro?

Esta pergunta não é fácil, como nunca foi fácil a tarefa de educar os filhos. Antigamente a cultura geral vigente em que estavam inseridas estas famílias era mais homogênea, marcada pelos princípios cristãos sólidos. Hoje, nós vivemos uma sociedade fragmentada; a verdade objetiva deixou espaço para as verdades pessoais. A família ficou muito enfraquecida. Sofre as investidas contrárias a família: programas que apresentam modelos de vida e de realização pessoal diferentes, ideologias, estilos de vida apesar da família, sem família, fora da família ou contra a família. Hoje, mesmo o casal bem estruturado e convicto dos princípios familiares cristãos, tem os filhos que são sujeitos a todo tipo de influência extrafamiliar. Os pais tem uma pequena faixa de participação na orientação dos seus filhos, até pela pouca presença física. O tempo que os filhos estão com a família é bastante reduzido. Passam mais tempo na escola, com os amigos, diante da televisão, na internet. Absorvem todo o tipo de informação. São como que “terra virgem”, que recebe tudo que lhe é oferecido. Por isto, é uma tarefa muito delicada para os pais de saber lidar com este universo de ideias que os filhos trazem. Eles perdem facilmente a autoridade sobre os filhos. Mas, como preservar esta autoridade? Primeiro, mantendo o laço de confiança. Que os jovens e crianças compreendam que são amados e que os pais querem o verdadeiro bem deles. Depois, a firmeza nas decisões, nas orientações, nos ensinamento. É muito importante para formar a “espinha dorsal” dos adolescentes e dos jovens é o testemunho dos pais. Se os filhos veem os pais se amando, planejando juntos, levando a família como interesse de todo o grupo familiar, eles vão absorvendo isso porque são coisas muito atraentes para os jovens. Se eles veem que os pais são desunidos, brigam, tem divergências de ideias ou de ideais, vão se sentir obsoletos na família, inúteis, ou às vezes até um peso para os próprios pais.

6. Qual sua orientação para formar famílias verdadeiramente estruturadas e cristãs?

Os pais se realizam na felicidade dos filhos. E quais são os elementos desta felicidade? A saúde, o bom êxito nos estudos, uma adequada profissionalização, ver os filhos entrando na vida com senso de responsabilidade e com competência. Mas, para um casal cristão, a fonte da felicidade é que os filhos pratiquem a mesma fé, que tenham como herança dos pais exatamente aquilo que é muito caro ao coração dos pais. Portanto, a educação cristã é uma tarefa primordial dos pais.

Em segundo lugar, é muito importante o trabalho da Pastoral Familiar junto à catequese. Eu sempre digo isto: não basta trabalhar com os noivos para preparar para a família. Hoje os assuntos da vida familiar devem estar presentes na catequese da Primeira Comunhão e da Crisma. Infelizmente, somos omissos neste sentido. Nós devemos começar uma verdadeira e ampla reforma do nosso sistema de catequese, para não transmitir somente algumas noções da fé, mas educar para a vida cristã, católica, educar para a vida familiar.

Em terceiro lugar, eu queria acentuar a catequese na família. É um tema que amplamente aparece em documentos da Igreja. Começa-se a falar da catequese na família, da catequese sobre o matrimônio e sua santidade, os padres são incentivados a falar sobre os temas familiares nas homilias, sobre a antropologia cristã, sobre a vontade de Deus que criou homem e mulher, que os criou por amor e para o amor, como seus parceiros na transmissão da vida. Hoje não podemos pressupor que quem casa tem consciência do que está fazendo. É preciso evangelizar para a família.

7. Quais as prioridades da Igreja para este ano?

É a Igreja quem nos determina o que devemos fazer. Em primeiro lugar, a Igreja vive o grande evento da Jornada Mundial da Juventude e o evento chamado “Bote Fé”. Na nossa diocese, nos dias 30 e 31 de maio, está acontecendo este evento, com a visita dos símbolos da Jornada Mundial da Juventude: a cruz peregrina e o ícone de Nossa Senhora. A Jornada Mundial acontecerá no ano que vem, no mês de julho, no Rio de Janeiro.

Outra prioridade é a continuação do programa “Diocese em Missão”. Várias paróquias já fizeram este processo, outras estão se organizando.

Entre as prioridades está a formação dos leigos por meio dos movimentos, palestras, retiros, encontros, como também a formação dos futuros sacerdotes. Eu fico satisfeito com o número bom das vocações que temos. Nós devemos estar muito atentos ao fato que, para o número crescente de habitantes, é necessário criar novas paróquias; ainda estamos com um pequeno déficit de sacerdotes.

8. O que o Sr. gostaria de dizer aos membros das ENS, em especial aos de Anápolis?

Que continuem sendo o que são, que continuem caminhando, revigorando. As dificuldades não faltam em nenhuma realidade, em nenhum seguimento. É preciso ir semeando, apesar de que às vezes estaremos lançando as sementes contra o vento. A nós pertence fazer o que devemos fazer, com consciência, com responsabilidade e com perseverança. Deus fará o resto. Os frutos virão porque eles não dependem de nós. De nós depende a perseverança. Os frutos o Senhor vai suscitar como manifestação da sua bênção pelo trabalho bem feito.

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