Sabemos, pelo testemunho de São Mateus, que aquele alguém que vem correndo e se ajoelha diante de Jesus, no início do evangelho que escutamos hoje, é um jovem, o famoso jovem rico. Esse moço queria muito mais do que a vida podia oferecer. Para ele, ganhar a vida eterna não significava somente possuir aquela após a morte, mas ter sentido pleno, a verdadeira felicidade já nessa em que estamos. Sendo rico, tinha tudo; observando fielmente à Lei desde a mocidade, fazia tudo. O que poderia ainda faltar a quem já tem e faz tudo? Aquilo que o ter e fazer não dão ao homem: o sentido do ser! O convite de Jesus não foi para fazer tudo de modo perfeito (o que ele parecia já conseguir), mas para ser perfeito (cf. Mt 19,21).
Talvez aquele rapaz tenha ido embora muito triste simplesmente porque não via nada em si mesmo além daquilo que possuía ou conseguia fazer. Ficou com medo do convite do Mestre que o chamava a deixar todas as suas posses e a não fazer nada a mais do que já vinha fazendo, a não ser estar com Ele, segui-Lo.
Chegamos a um dos grandes dramas da vida humana: a auto identificação (e, consequentemente, auto valorização) ao nível do fazer ou possuir e não ao nível do ser. “Para quem se auto identifica a nível do fazer, o não fazer significa também não existir” (Livro: Tecendo o Fio de Ouro). Pessoas assim nunca estão contentes consigo mesmas, caem no abismo do desanimo e da perda de sentido quando não conseguem fazer o que se propõem, precisam sempre que os outros lhes digam o quanto valem. Na verdade, somos e valemos muito mais que aquilo que fazemos e possuímos. Deus me ama não por aquilo que eu faço, mas por aquilo que eu sou. Sou filho amado de Deus! “Sou o que Deus pensa de mim” (Santa Teresinha). Nada apaga essa minha identidade mais profunda (nem mesmo meus pecados!), porque lá onde ela mora dentro em mim é onde também Deus me habita.
Só como resposta a esse amor infinito e imerecido, estando segura e me dando segurança essa minha mais profunda identidade, posso corresponder com meu esforço e traduzir em obras fora de mim o amor que estou certo de carregar dentro. O ideal é que chegasse a tal ponto a nossa auto identificação com o ser que, mesmo olhando para as nossas incontáveis misérias, deveria tirar- nos um largo sorriso da alma e uma lágrima apaixonada do rosto o simples recordar: sou um nada amado!
Pe. João Paulo Cardoso Paróquia São Pedro e São Paulo, Anápolis - GO