Ouvimos do Santo Evangelho de hoje: “Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da Lei” (v. 22). Encanta ver o encanto do povo com Jesus quando pregava e realizava os milagres que tantos precisavam. Parecia fácil, até para o ouvinte mais simples no meio da multidão, perceber a diferença entre o discurso de Jesus e aquele dos fariseus e mestres da Lei. A diferença estava na “autoridade” com a qual ele falava. Mas, de onde vinha a autoridade de Jesus?
Sem dúvidas, o que fazia Nosso Senhor expulsar os demônios e afastar doenças e enfermidades era a sua autoridade divina que “não é uma força da natureza. É o poder do amor de Deus que cria o universo e (…) purifica o mundo corrompido pelo pecado” (Bento XVI). Outra coisa que, com certeza, se notava no Mestre a despeito dos demais e, hoje como sempre, também se espera de quem está à frente dos outros é a coerência de vida: que se viva aquilo que se prega.
Contudo, especificamente para o povo, o que o fazia sentir essa dife- rença era outra coisa: a compaixão! “Justamente no fato que Jesus tomava parte emotivamente do sofrimento da viúva, do doente, do cego, do leproso…! Ele o revivia dentro de si. Eis a fonte sadia da autoridade (…). Quando não tem (…) capacidade de compaixão, a autoridade descamba para o poder” (Pe. Amedeo Cencini). A palavra compaixão vem do latim: cumpassio, expressão que pode ser traduzida como “sofrer com”. Diferente da empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro que sofre, a compaixão move a pessoa a fazer algo para tentar diminuir esse sofrimento, não a deixa parada.
Nada causa mais efeito em que ouve uma correção, um conselho, uma homilia, do que perceber que a “autoridade” que está falando está realmente interessada em ajudar, está “sofrendo com” a pessoa a dificuldade que ela tem, o problema que está enfrentando, e não apenas a corrige por raiva ou cutuca a ferida por um sádico prazer. Isso se nota nas atitudes, no olhar, até no tom de voz e nas expressões faciais de quem exorta. Como aconteceu com Jesus, certo é que pais, pregadores, educadores e dirigentes serão muito mais eficazes em suas falas se entenderem que o melhor discurso para quem está sofrendo, por erro próprio ou fatalidade, é aquele no
qual quem fala deixa primeiro doer em si pra só depois abrir a boca.
Pe. João Paulo Cardoso de Morais
Roma – Itália