A Igreja celebra amanhã (22), a Quarta-feira de Cinzas e o início da Quaresma, período de preparação para a solene Páscoa do Senhor. Tempo que nos oferece a oportunidade de à exemplo do antigo povo de Israel, deixar a escravidão do pecado para chegar à vida da graça. Durante a ‘estrada’ para esta conversão somos convidados a transformar as realidades que nos rodeiam, por meio da vivência da Campanha da Fraternidade (CF), que neste ano reflete sobre a temática da fome, sob o lema: “Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14,16).
A celebração das Cinzas dá o pontapé inicial para a CF 2023. Pensar sobre “Fraternidade e fome”, juntamente com o lema “Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14,16), objetiva incentivar as comunidades a assumir suas responsabilidades diante da fome no país, a exemplo de Jesus que teve compaixão da multidão faminta. O lema escolhido é justamente uma ordem de Jesus aos seus discípulos e quando aplicado à atualidade nos dá oportunidade de viver a Quaresma em espírito de conversão pessoal, comunitária e social.
Não é a primeira vez que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil trata a fome na Campanha da Fraternidade. A primeira vez em que a temática foi tratada pela Igreja no Brasil, foi em 1975, com o tema ‘Fraternidade é repartir’ e lema ‘Repartir o pão’. A segunda foi em 1985, com o lema ‘Pão para quem tem fome’. A fome é um desafio social e humanitário, resultado da desigualdade social. No Brasil, milhões de pessoas enfrentam a dura realidade de não ter o alimento em sua mesa.
É discrepante pensar que o país considerado o celeiro do mundo possua cerca de 33,1 milhões habitantes atingidos pela fome. Como Igreja, conforme a CNBB, a fome diz respeito à sociedade inteira. A solução do problema da miséria e da fome não está portanto somente nos recursos financeiros, mas na vida fraterna. ‘Ninguém deve sofrer com a fome quando realmente vivemos como irmãos e irmãs’.
Responsabilidade de todos
Papa Francisco afirmou nos 75 anos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) que além de trágica a fome é também uma vergonha, “diante dessa realidade, não podemos permanecer insensíveis ou paralisados. Somos todos responsáveis”, disse. No cartaz deste ano temos o mapa do Brasil, com mãos em destaque que repartem arroz e feijão e buscam refletir o sentido de dar vida a solidariedade guiada pela fé com o gesto retratado.
Como de costume a Coleta Nacional da Solidariedade é realizada todos os anos, no Domingo de Ramos como gesto concreto da Campanha da Fraternidade e os recursos arrecadados integram os Fundos Diocesanos e Nacional de Solidariedade visam contribuir para a promoção da dignidade humana, o compromisso com os pobres e a vida plena.
Para além da necessidade física humana, é importante ressaltar que o ser humano, não tem fome só de comida, ele tem fome de justiça, necessita de relações justas que lhe garantam a sobrevivência, tem fome de cidadania e também de Deus. A Campanha tem o objetivo de contribuir para uma melhor vivência do período quaresmal, mas um tema tão urgente não se restringe ao mesmo. Que em ações concretas e também espirituais todos comer e ficar saciados como em Mateus, seja do alimento que falta à mesa, seja do Pão da Vida.
Oração da CF 2023
Pai de bondade,
ao ver a multidão faminta,
vosso Filho encheu-se de compaixão,
abençoou, repartiu os cinco pães e dois peixes
e nos ensinou: “dai-lhes vós mesmos de comer”.
Confiantes na ação do Espírito Santo,
vos pedimos:
inspirai-nos o sonho de um mundo novo,
de diálogo, justiça, igualdade e paz;
ajudai-nos a promover uma sociedade mais solidária,
sem fome, pobreza, violência e guerra;
livrai-nos do pecado da indiferença com a vida.
Que Maria, nossa mãe, interceda por nós
para acolhermos Jesus Cristo em cada pessoa,
sobretudo nos abandonados, esquecidos e famintos.