2º Domingo da Quaresma: Fé
Existem realidades que vão além do visível e do palpável, realidades que superam o sensível e toca o transcendental, realidades espirituais que não podem ser negadas e nem refutadas… E diante deste complexo, vasto e misterioso universo espiritual ao qual se insere a matéria existe uma ponte que liga ambas as realidades: a fé. Uma tênue pinguela onde somos chamados a equilibrar e caminhar, a fé é uma rede segura que nos dá acesso a desentranhar de forma velada e oculta a misteriosa obra da criação e do mundo espiritual, nos faz tocar no Criador, escutá-Lo, caminhar na sua presença (salmo), aprender de sua pedagogia…
E por mais que seja uma realidade ainda continua sendo um mistério, a fé é saber e ter certeza daquilo que não se vê e nem se toca, mas acreditar naquele que revela e naquilo que é revelado, mesmo que não enxerguemos e nem toquemos, é confiar de tal forma que toda a vida se conforma segundo aquilo que se crê. Assim como Abraão (1ª leitura), não via, não entendia, tinha mil motivos para discordar de Deus que lhe pedia o sacrifício de seu filho, mas não retrucou, não reclamou, obedeceu com simplicidade e com fé. Esse passo de confiança, entrega e obediência caracteriza o ato da fé e a desconecta de uma interpretação vazia e banal. Muitos acham que a fé se resume em apenas crer, acreditar, dizem que tem muita fé em Deus, mas não fazem nada do que Deus lhes pede! Acreditam em Jesus Cristo, na revelação, no Evangelho, mas vivem uma vida desregrada, não renunciam ao pecado, não tem interesse ou preocupação em viver segundo os mandamentos… Uma fé que não permeia a vida e não comprometa a existência é banalidade, demagogia e mentira!
A fé nos dá a certeza em antecipação daquilo que iremos receber e contemplar. Na transfiguração (Evangelho) Pedro, Tiago e João enxergaram algo que eles já sabiam e tinham a certeza pela fé, contemplaram de antecipo a visão beatifica de Jesus Cristo na sua glória, seu resplandor e candura. Mas tal visão não deixaram aqueles apóstolos inertes e passíveis, confirmaram ainda mais sua fé em Jesus Cristo, desceram da montanha e obedeceram… Algo tão grandioso e esplêndido como a transfiguração deveria ser proclamado em alta voz por aqueles apóstolos, mas silenciaram, obedeceram com fé e completa adesão, Jesus lhes pedia para não contarem nada até a ressurreição. A fé nos compromete a viver segundo o que Deus nos pede. A fé não se mede pela grandeza ou convicção do acreditar, mas pela pequenez de abraçar nos mínimos detalhes aquilo que Deus quer de nós.
Neste caminho rumo à Páscoa, os nossos sacrifícios e penitências não podem ser alheios à fé, devem ser regados pela oração e acompanhados de uma visão sobrenatural. O sacrifício quaresmal não pode transformar o cristão num masoquista, alguém que sofre pelo gosto de sofrer, mas deve levá-lo a uma conversão real e um comprometimento verdadeiro em viver segundo aquilo que se crê. As nossas penitências são a melhor maneira de domar nossos instintos para viver segundo aquilo que Deus no pede pela fé. Que depois dessa caminhada quaresmal possamos crescer na nossa fé orientando nossa vida para uma verdadeira conversão, sendo aquilo que Deus quer que sejamos!
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