O Evangelho de hoje nos transporta para o contexto da Última Ceia. Estamos em clima de despedida. No próximo domingo, celebraremos a subida de Jesus aos céus de onde nos enviará o seu Espírito. O convite chave da passagem que lemos é: “permanecei no meu amor”.
Fazer a experiência do amor de Deus nos realiza e é essencial para que a vida tenha sentido pleno, mas, por vezes, o verdadeiro desafio está não só em conhecer esse amor, mas em permanecer nele. Jesus nos aponta o caminho: “se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor”. São dois lados da mesma moeda: o amor que ele tem por nós e os mandamentos que ele nos dá. Não se permanece em um sem obedecer ao outro. É daqui que entendemos que os mandamentos não são opressão, mas expressão desse amor.
Ser amado sem amar de volta é uma experiência amputada do amor, afinal “há mais felicidade em dar que em receber” (At 20, 35). Só faz experiência completa do amor quem o transmite a alguém. Os mandamentos são a nossa principal oportunidade de nos devolver a Deus. O amor se manifesta de modo concreto: se não tivéssemos os seus mandamentos para seguir e seus preceitos para obedecer, como poderíamos dizer que o amamos? Mesmo para aqueles que nunca ouviram falar o nome de Deus em suas vidas, existe a lei natural, gravada por Deus em cada coração, a própria voz da razão indicando o que se deve fazer evitar.
Nosso Senhor resume os seus mandamentos em um só aqui: “amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”. Por mais ousado que pareça amar como Deus ama, foi exatamente para isso que nascemos. Ele nos capacita. E como foi que nos amou? Dando a vida! A cruz, mesmo sendo o ponto mais alto, não foi o único momento em que se doou por nós. Jesus dava “pedaços de si” cada vez que ensinava as multidões, escutava e curava os doentes, acolhia os pecadores, “perdia tempo” com seus discípulos… doação até o sacrifício total no Calvário, atualizado em cada Santa Missa. Na Eucaristia, Deus “permanece no amor” para conosco.
É importante notar ainda que a finalidade de tudo o que Jesus mandou e proibiu foi uma só: “para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena”. Ele também encontrou a sua felicidade em obedecer. “Eis que venho fazer com prazer a vossa vontade, Senhor” (SI 39,1); “Pois eu desci do céu não para fazer a minha própria vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 6,38). Na vontade de Deus, está a nossa paz (Voluntas Tua, pax mea). Que fique bem claro: obedecer a Deus não é condição para ser amado por ele, mas é o único caminho para amá-lo de volta! “Quem não amou a Deus aqui na terra, o que vai fazer no céu?” (S. Teresa dos Andes).
Pe. João Paulo Cardoso Roma — Itália