Diocese de Anápolis

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Lições do Cenáculo – Quinta-feira Santa 2018

Quinta-feira Santa – Missa do Crisma
 29 de março 2018
Lições do Cenáculo

Amados irmãos e irmãs,
Sacerdotes, Diáconos, Seminaristas, Religiosas e Religiosos,
querido Povo de Deus: “a vós graça e paz da parte de Jesus, a testemunha fiel” (Ap 1, 5).

Obrigado de todo o coração pela presença orante de todos hoje aqui nesta Santa Missa! Na sinagoga de Nazaré todos tinham os olhos fixos em Jesus! Redirecionemos nesta presente hora nossa mente, nossos olhos e nosso coração a Ele, Jesus Cristo, Sacerdote e Vítima, pois Ele “é o mesmo ontem, hoje e por toda a eternidade” (Hb 13, 8).

Nesta Missa da Unidade, o nosso pensamento espontaneamente se ocupa com o dom do sacerdócio e da Eucaristia: Fazei isto em Minha memória. Portanto, queridos sacerdotes, hoje é um dia muito especial para nós. Uma vez mais a Divina Providência nos reúne hoje nesta Quinta-feira Santa aqui nesta igreja Catedral para celebrar com sincera humildade, reverência e gratidão o dom da Santíssima Eucaristia e do sacerdócio. Paternalmente, quero abraçar através de minhas palavras e orações a todos os sacerdotes da Diocese de Anápolis presentes aqui e também aqueles que partiram em missão e estão realizando a nossa solicitude missionária noutras dioceses. Eles estão espiritualmente aqui conosco e eu estou com eles. Penso neste momento em todos e rezo por todos com amor e gratidão.  Rezo pelos padres novos no ministério, que hoje vão concelebrar com o presbitério a primeira Missa da Quinta-feira Santa e pela primeira vez, com os seus demais irmãos, as suas promessas sacerdotais. Desejo com minha palavra e oração confirmar e abençoar a todos, a cada um com seus poucos ou muitos anos de doação, para que as suas “alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias” (GS 1) vivenciadas por Cristo e pela Igreja sejam santificadas. Cada um hoje, interiormente, e com renovada consciência, vai poder retornar ao dia de sua ordenação, quando recebeu, ajoelhado e com profundo recolhimento, a imposição das mãos do Bispo e a oração consacratória invocando o Espírito Santo, constituindo-o sacerdote de Cristo para servir o Povo de Deus. A Igreja inteira se uniu com júbilo e gratidão àquele adsum (Aqui estou!) alegre e generoso. Tantos de vocês foram ordenados aqui por mim e por meu antecessor Dom Manoel. Foram ungidos para ungir e santificar o povo. Usando as palavras de Isaías: Ungidos para curar as feridas da alma (Is 61,1). Que bela missão! Na sacristia da Basílica Santa Maria Maior, em Roma, estão escritas aquelas palavras tão incisivas que tantos de nós conhecemos: Celebra Missam, ut primam, ut unicam, ut ultimam. Com humildade e confiança Naquele que “olhando-nos com misericórdia nos chamou”, nos consagrou e nos enviou desejo que cada sacerdote possa hoje renovar as suas promessas sacerdotais com igual motivação: como se fosse a primeira, a única e última vez Àquele que nos ama e nos constituiu “sacerdotes para seu Deus e Pai”.

Continuando a ouvir com o coração e ainda com os olhos fixos Nele (Lc 4, 20), gostaria de convidá-los a sairmos da sinagoga de Nazaré, e parar um pouco no Cenáculo, lugar da instituição da Eucaristia e do nosso sacerdócio para colhermos algumas lições para a nossa vida e ministério.

Recordemos as palavras de São Lucas: Quando chegou a hora, Ele se pôs à mesa com seus apóstolos e disse-lhes: “Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco antes de sofrer” (Lc 22, 14-15). Hoje Jesus diz a nós as mesmas palavras. É Ele mesmo que agora nos chama e nos recolhe juntos. É Ele que agora guia esta celebração e nos atrai para uma vida nova: a vida da caridade, a vida de Deus, a vida que todos buscamos ‒“Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22, 27). Jesus deixa a nós, seus amigos, o mandamento de amar como Ele nos amou, pondo-nos ao serviço uns dos outros (cf. Jo 13, 14): “Dei-vos o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13, 15).

Mas como devemos celebrar a Missa para que seja um verdadeiro encontro pessoal com Cristo? Como podemos viver esse mistério da  Eucaristia? Como nos tornar pessoas eucarísticas, como o foram os santos? Isso nos pode ensinar somente Cristo, porque é Ele o Mestre. Contemplemo-Lo! Escutemo-Lo! (A. Comastri).

  1. Jesus nos revela que Deus é humilde ‒ No Cenáculo, entre o estupor de todos, antes de celebrar a primeira Missa da história, Jesus se levantou da mesa e, assumindo o papel de um escravo, começa a lavar os pés aos seus apóstolos. O Apóstolo Pedro se faz voz do escândalo de todos os séculos e Lhe diz: “Jamais me lavarás os pés” (Jo 13, 8). Pedro disse isso que todos pensamos: nós não queremos um Deus humilde! Mas Deus é humilde! Nós não queremos um Deus que se põe em último lugar, mas Deus se põe em último lugar! Não queremos um Deus sem orgulho, mas Deus é sem orgulho! Seremos capazes de nos converter a este Deus? Seremos capazes de destruir o ídolo construído pelas nossas mãos para colocar no centro do nosso coração o Deus verdadeiro, o Deus humilde, o Deus que se fez servo de todos os homens? Como dizia o santo Bispo de Genebra, São Francisco de Sales: “A humildade é a precursora da caridade: como João Batista o foi de Cristo”.

Em cada Eucaristia retorna a nós, caros irmãos, esta interrogação, e Deus espera a nossa resposta: uma resposta de fatos, de gestos, de escolhas. Reconhecemos sinceramente que é o orgulho o veneno da história humana: desde o início até hoje. Foi o orgulho que dividiu a família humana. Foi o orgulho que desencadeou as guerras. Foi orgulho que fez chorar tanta gente e apagou a alegria que Deus tinha doado ao homem no dia da Criação. Portanto, irmãos meus, supliquemos ao Coração Sacerdotal de Jesus, manso e humilde, o dom da humildade. Desçamos dos pedestais, olhemo-nos com mais benevolência e com mais suavidade: a Santa Eucaristia exige esta conversão para ser uma Missa celebrada verdadeiramente com Cristo, com os sentimentos de Cristo Nosso Senhor.

  1. Jesus nos revela que Deus é misericordioso infinitamente ‒ Na Última Ceia Jesus tira o véu que esconde a traição de Judas. E também hoje Ele tira o véu da hipocrisia com o qual às vezes tristemente escondemos nossas fragilidades. De fato, Judas todos nós em alguma medida infelizmente o temos em nossos corações. Somos seus irmãos. E como se comporta Jesus? Jesus revela a traição… com a esperança de poder perdoa-lo. Ele lança um facho de luz nas trevas de Judas, para que ele possa vê-lo e sentir horror. E o gesto do pedaço de pão oferecido é um gesto de delicada atenção: é um sinal, um convite, é uma mão estendida com a oferta sincera de uma completa misericórdia. Aquele apóstolo, infelizmente, não quis ser perdoado; conhecemos essa triste história! O orgulho foi, portanto, a tragédia de Judas. Porém, a maldade do homem, de qualquer homem, não poderá jamais desencorajar a vontade que Deus tem de perdoar.

E nós, queridos irmãos? Nós na nossa Santa Missa fazemos de verdade comunhão com o Deus que perdoa? Nós somos uma comunidade (um presbitério) do perdão fácil, pronto, quotidiano, generoso? Quem não perdoa, não conhece Deus; quem não perdoa é sem Deus: porque O recusou recusando o perdão. Verifica-se também hoje para nós quanto o discípulo amado escreve na sua carta: Nós cremos no amor que Deus tem por nós! Com esta fé repetimos o gesto divino do lava pés, o gesto de Jesus no dia da instituição da Eucaristia e do nosso sacerdócio.

  1. Jesus nos revela que Deus é pobre ‒ Jesus, Filho de Deus vivo, escolheu um estábulo de Belém para vir ao nosso meio. Ele disse de Si mesmo: “As raposas têm tocas e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9, 58). Jesus, na instituição da Eucaristia, escolhe o pão e o vinho, sinais de pobreza, e os transforma em Sua prodigiosa Presença! Deus se encontra à vontade somente na pobreza, porque Deus não pode possuir: Deus, de fato, é assim dom de Si, que tudo aquilo que tem, o doa; e assim Ele é pobre, o infinitamente pobre, o verdadeiro pobre. A pobreza de Deus é consequência inevitável do Seu Amor: o amor verdadeiro é dom de si; e quem doa, não possui.

E nós? Sentimos o convite à pobreza que vem da Eucaristia que celebramos? Sabemos ler o sinal que Jesus nosso Senhor pôs em nossas mãos? Trabalhai, não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, alimento que o Filho do Homem vos dará (Jo 6, 27). É este, amados irmãos, o momento abençoado para escutar a Palavra de Jesus! A Santa Eucaristia de hoje seja de verdade, para todos nós, uma comunhão com o Deus que Cristo nos fez conhecer: Deus humilde, Deus misericordioso, Deus pobre! Sem conversão, este Deus nós não O encontraremos jamais.

  1. Por fim, mais uma lição do Cenáculo: a unidade. Depois que terminou a Ceia, de ter manifestado a humildade de Deus, de ter se deixado na pobreza do pão e do vinho, de ter deixado o mandamento novo de amor como seu testamento, Jesus se entregou a uma longa oração ao Pai – a Oração Sacerdotal. Rezou pelos seus, pelos que o Pai lhe deu, dos quais Ele cuidou para que nenhum se perdesse. Lamentou a perda de Judas. Mas o centro da Oração é outro: “Pai Santo, guarda-os em teu nome, para que eles sejam um, como nós somos um.” (Jo 17,11). Deus cuida de nós! Isto é certeza. A nós cabe dar-lhe glória na e pela unidade. O mundo está dilacerado, a sociedade está dilacerada, a família está dilacerada, a Igreja sofre com tantas e tão diversas dilacerações. Jesus pede o mais importante: a unidade para nós. Membros do presbitério sejamos um. A unidade é a glória de Deus! A unidade é o argumento do nosso apostolado! A unidade é o argumento da nossa perseverança!

Terminando esta homilia, peço que nos ajude a Santíssima Virgem Mãe Maria, Mãe do nosso sacerdócio. Ajude-nos também São José, cujo mês que lhe é dedicado está findando: que ele cuide de nós sacerdotes da Igreja que está em Anápolis com “ternura eucarística”, para que também cuidemos uns dos outros. Eis, como dizia o Papa Francisco, como devemos nos tratar também na nossa família presbiteral: tratar-nos com “ternura eucarística”. Dizia ainda o Papa Francisco: “Lembro-me de quando Paulo VI recebeu a carta de uma criança com muitos desenhos. Ele disse que lhe fez muito bem ter recebido uma carta dessas sobre uma mesa repleta de tantas outras que só falavam de problemas. A ternura nos faz bem. A ternura eucarística…”

“A Jesus, que nos ama, que por seu sangue nos libertou dos nossos pecados e que fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai, a ele a glória e o poder, em eternidade. Amém” (Ap 1, 5-6).

Dom João Wilk, OFMConv.

 

      

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